Eu já contei aqui como foi minha saída de Recife para o interior do Piauí. Falta a chegada na nova cidade. Eu já sabia que era um lugar pequeno, longe, interiorano e quente.
Conseguir um lugar para alugar e morar foi complicado. Os imóveis disponíveis não eram bons e os que eram bons estavam alugados. Não existe imobiliária na cidade,pelo menos na época que eu precisei, portanto essa tarefa era exaustiva. Paulo saía de rua em rua, parando o carro e perguntando aos porteiros dos poucos prédios que tem por lá, se havia apartamento desocupado. Parava nas padarias, pequenos comércios e peguntava pra todo mundo a mesma coisa:"_ onde tem imóvel para alugar?” Até que passou por um edifício que ainda estava terminando a construção e o vigia informou o número do proprietário. Ligou e marcou para acertar o contrato. Depois de um mês pude respirar aliviada por finalmente ter um teto pra morar.
Quando chegamos, dia 09 de maio de 2009, fomos direto pra um hotel, acho que o único melhorzinho, pois minha mudança só chegaria semana seguinte. Na parte da tarde, fui correndo conhecer a nova moradia. Tem noção do que é um edifício inteirinho desocupado, sem ninguém morando e nem previsão de morador? Ainda sujo com poeira de construção?
O moço que administrava as coisas do dono do prédio, Seu Antônio, disse: “– Escolha qual apartamento quer morar.” hahahaha... É coisa engraçada demais, viu! Tratei logo de lavar o apartamento para esperar os móveis. Foi uma semana corrida. Na quarta fomos conhecer a Serra da Capivara e no domingo o caminhão com a mobília chegou. Coisa boa é morar em apartamento, fazer mudança e não se preocupar se vai incomodar o vizinho. Só nós dois e Deus como companhia num prédio de 3 andares e 8 apartamentos. Apartamentos ótimos, espaçosos e novinhos em folha. A agonia foi recompensada.
Lembro que Paulo precisou viajar pra Fortaleza para uma reunião e eu fiquei quatro dias sozinha. Imagina... a pessoa ficar num edifício, sendo a única moradora, numa cidade onde acabou de chegar e não conhecia nada e nem ninguém. Depois de quase 2 meses que os moradores começaram a chegar. E ainda bem que tive bons vizinhos. No mesmo andar que eu morei, conheci dona Laura e seu Júlio, um casal paraibano que chegou à cidade com o filho e o sobrinho. Dona Laura é uma mulher admirável. Acompanha o marido pra todo lugar onde ele precise ir abrir estrada. Ele, o filho e o sobrinho trabalham com isso. Cada história que ela me contou... Saudade deles.
A cidade é bastante movimentada, o comércio é grande, o trânsito chega a ser complicado. Nunca vi tanta moto e tanta gente se arriscando sem o uso de capacete. Ninguém liga pra segurança. Por ser cercada por morros, Picos parece que está enterrada na terra e o vento lá quando sopra parece um bafo de panela fervendo. Gente... Sério mesmo! Sem ofensas, mas a verdade é essa. É quente pra caramba!
Mas o Picoense é gente boa demais! Pessoal solícito, atencioso. Quando eu parava pra pedir uma informação, eles só faltavam me deixar no lugar que eu queria. Aliás, essa é uma característica do povo piauiense. Gostam de conversar com a gente, tratam bem quem chega de fora. Um povo super caloroso. E disso eu gostei muito! Picos é a terra do mel. Um mel gostoso e barato demais. E também é terra do caju, da castanha e da cajuína. Eu não gostei da cajuína porque achei muito doce. Mas lá é bebida preferida. E tem o famoso Arroz Maria Isabel, que aprendi a fazer com Dona Neta, uma mulher batalhadora, super carinhosa comigo e de quem sinto muita saudade também.
Picos é uma cidade festeira, que tem uma economia movimentada graças ao mel, ao caju e a carnaúba que tem por lá em abundância. Tem um povo hospitaleiro e simpático, de costumes interioranos. A grande maioria dos moradores é simples e humilde de alma, o que tornou leve minha passagem por lá. Como toda cidade pequena, é um lugar onde todo mundo conhece todo mundo e sabe da vida de todo mundo. O tempo passa devagar e nem adianta tentar apressar as coisas e nem estressar. Ninguém lá corre pra resolver nada.
*Fotos retiradas do Google. Caso sua foto esteja por aqui, ficarei feliz em dar os devidos créditos ou retirá-las do post.